segunda-feira, 27 de junho de 2011

Otaviano Costa demora 1h30 para se transformar em mulher

Montagem da personagem leva cerca de 1h30. Foto: João Laet/O DiaMontagem da personagem leva cerca de 1h30
Foto: João Laet/O Dia
Uma mecha de cabelo cai sobre a boca de Otaviano Costa, durante uma pausa para o lanche nas gravações de Morde & Assopra. Delicadamente, o ator usa os dedos polegar e indicador para capturar os fios fujões. Observando a cena, seu colega de elenco, Marcos Pasquim, comenta: “Tira o cabelo da boca igual a homem, rapaz!”. O intérprete de Élcio tem 1,90m de altura, gogó demarcado e feições de ‘macho’, mas vira uma mocinha indefesa quando se traveste de Elaine. Ou, para os amigos mais íntimos, ‘Mingay’.
Explica-se: “antes de Elaine, minha única lembrança de me vestir de mulher é dos Carnavais de Cuiabá (onde nasceu), quando era garoto. Lá existe um grande bloco, o Mingau. E uma versão afetada, o Mingay, quando os homens saem travestidos. Lembro da minha mãe me montando com roupas dela. Os amigos de lá estão tirando sarro: ‘Olha o Mingay de volta!’”, revela Otaviano, que tem passado boas horas de sua vida montado.
Por causa do longo tempo da transformação (em média 1h30), o ator permanece, muitas vezes, com resquícios de Elaine no corpo. “Quando tenho gravações em dias seguidos não tiro o esmalte das unhas. E chego em casa com maquiagem. A Olívia fica vidrada na minha mão, eu tenho que dizer: ‘não é a mamãe, não é a mamãe!’”, conta, referindo-se à filha de 7 meses, fruto do casamento com a atriz Flávia Alessandra.
Brincadeiras à parte, o trabalho de Otaviano vem acumulando vários elogios. Com seu alter-ego feminino, o ator protagoniza cenas divertidíssimas na novela das sete. Principalmente quando aparece ao lado de Paulo Goulart (Eliseu), o admirador que já lhe deu tapinhas no bumbum e alguns ‘amassos’. “Assim como todo bom macho, ele tem uma bela alma feminina”, elogia Goulart, em visita ao camarim onde foi realizada esta entrevista.
A passagem de Paulo Goulart muda o tom da conversa. Otaviano é, na boa acepção da palavra, um profissional deslumbrado. Valoriza sua posição do lado de dentro da televisão e admira seus colegas de trabalho. Sente-se um privilegiado. “É por isso que eu amo tudo o que faço”, emociona-se: “eu deixei Cuiabá, minha família e amigos aos 14 anos, para trabalhar nesta TV mágica que o Paulo Goulart representa. Ver que hoje estou aqui, atuando com ele, é maravilhoso para mim”.
Otaviano tem uma carreira bastante diversificada. Começou, aos 17 anos, como locutor de um programa na extinta Jovem Pan. Fez parte da Escolinha do Golias, no SBT; foi para a MTV; trabalhou como repórter do Domingão do Faustão; substituiu Luciano Huck com o programaO+, na Band; atuou em novelas no SBT, Record… E, com Elaine, se firma no elenco de novelas da Globo. “Não consigo eleger um momento melhor da minha carreira. Sei da importância do que estou vivendo agora, mas sempre me lambuzei de tudo o que fiz”, analisa ele.
Sobre o momento pessoal, Otaviano não disfarça: “eu sou feliz e sei”, diz. Casado há quase 5 anos com Flavia Alessandra, que também está em Morde & Assopra – como a Naomi -, ele delicia-se com o momento da paternidade. “Apesar de nos dedicarmos aos personagens, nossa novela principal é a Olívia. Ela é a nossa prioridade. Temos a sorte de não termos jornadas de trabalho no mesmo horário, então nos revezamos com ela”, explica ele, derretendo-se: “ela é um ‘bebêsauro’, enorme, gordinha. E puxou completamente o nosso DNA, vive com o sorrisão aberto”.
Otaviano e Flávia são daqueles casais-referência, adorados por todos, e sempre gentis. Mas o ator revela um pouco dos bastidores desta relação. “Não somos um ‘casal margarina’, temos as nossas diferenças. Mas dialogamos para evitar de ter que ir para as trincheiras”, revela, acentuando as semelhanças entre os dois: “nunca conheci alguém tão parecido comigo. Ela gosta de filme de guerra como eu, sabe? E temos o mesmo humor.”
Nasce uma estrela
Foram dias e dias de testes para que Elaine fosse montada. A preparação começou em fevereiro, com testes de cabelo, maquiagem e roupas. Valéria Toth, responsável pela caracterização, assume a inspiração: “nossa intenção era de que ele parecesse com a Monica Bellucci”. Hoje, o ator e a equipe já estão mais acostumados com a transformação, que dura em média 1h30. “É muito bom trabalhar com o Otaviano, que chega sempre no horário e é bem disponível, topa tudo”, elogia Valéria, que também se torna professora de francês durante a transformação. “Estou estudando o idioma e, como não tenho tempo de praticar, aproveito a conversa com a Valéria”, diz Otávio, sem reclamar da produção: “não sou do tipo marido machão, sempre tive paciência de esperar a Flávia se arrumar. Mas agora entendo melhor o tempo da espera…”
O processo começa pelas sobrancelhas. Otaviano não quis afiná-las muito na pinça, o que dá um pouco de trabalho para Valéria. “Além da novela, faço outros trabalhos como apresentador de eventos. Não combina, né?”, diz Otaviano, que faz as sobrancelhas duas vezes por mês. “É a maior dor que eu já senti na vida, não imaginava. E dá uma coceira incrível na ponta do nariz”, observa ele, que também depilou uma parte das pernas para as primeiras cenas de Elaine. “E nunca mais!” – hoje ele usa produto depilatório, sem dor.
Além de diminuir as sobrancelhas com verniz, a barba do ator também tem que ser escondida. “Esconder a barba é primordial, é o nosso maior trabalho. Às vezes, quando ele grava de manhã e à tarde, tem que refazer a barba neste intervalo. Cresce muito rápido!”, conta Valéria. Após o momento ‘camuflagem’, Otaviano é maquiado: olhos delineados, sombra escura, rímel, lápis para demarcar os lábios, batom e blush. Tudo bem ‘clean’. “Não queríamos ele ‘travecão’, mas que tivesse um ar natural, sem maquiagem pesada.”
Enquanto é maquiado, Otaviano também tem as unhas pintadas de vermelho. Em seguida, vai ao camarim colocar as roupas de Elaine – o armário é recheado de vestidos transpassados, meias-calças e sapatilhas. “Ele já é grandão, decidimos que não precisava de salto”, diz Valéria. Para colocar seus seios, Otaviano tem duas opções. Nas roupas decotadas, precisa utilizar prótese de silicone. Quando está mais ‘tapado’, usa sutiã com bolas.
A transformação é finalizada com uma peruca longa e laquê, quase duas horas depois. Ufa. Para se desmontar, Otaviano conta com a ajuda da mulher, Flávia Alessandra. “A Flávia é muito bonita e tem o olhar apurado sobre a maquiagem dela. Ela me ensinou a importância de limpar a pele antes de dormir e escolhe os produtos para mim. Mas ainda sofro para tirar o esmalte…”, conta, rindo.
Arte de ser mulher
Outros atores já se aventuraram na missão de se travestir. No topo da lista, aparece Floriano Peixoto, que, de cara, estreou na televisão como o travesti Sarita de Explode Coração, em 1995. No cinema, Robin Williams e John Travolta roubaram a cena ao se vestirem de jovens e divertidas senhoras. O primeiro viveu a Sra. Euphegenia Doubtfire, no longa Uma Babá Quase Perfeita (1993). Travolta emprestou seu talento a Edna Turnblad, no filme Hairspray – Em Busca da Fama (2007).
A versão brasileira do musical (2009) contou com o ator Edson Celulari no papel de Edna, que definiu como “infindável o novo culote” . Também no teatro, Edwin Luisi se aventurou na peçaTango, Bolero e Cha-Cha-Cha. E teve ator que experimentou esse universo por duas vezes. Miguel Magno, morto em 2009, esteve na novela A Lua Me Disse (2005), como a Dona Roma, e no seriado Toma Lá Da Cá (2007), na pele da Dra. Percy Lambert.

O Dia

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